Após vir à público que os arquitetos responsáveis pelo projeto do Serpentine Pavilion de 2019 não estavam pagando os estagiários envolvidos no projeto do pavilhão, a Serpentine Gallery solicitou diretamente que os responsáveis pelo escritório Juny Ishigami + Associates, revisassem seus péssimos hábitos e remunerassem todos os envolvidos no projeto do pavilhão. O escritório de arquitetura japonês é apenas mais uma das muitas empresas do ramo que explora jovens profissionais, oferecendo trabalho em troca de "experiência". As duras críticas da Serpentine vieram à tona depois de um suposto e-mail ter sido veiculado pelo The Architects’Journal, onde um dos estagiários fala sobre a falta de remuneração, a pesada carga horária e as intermináveis horas extras.
O escritório do arquiteto japonês de 44 anos foi escolhido pela Serpentine Gallery em fevereiro deste ano, tornando-se o segundo mais jovem arquiteto a projetar um pavilhão Serpentine depois de Frida Escobedo, responsável pelo pavilhão do ano passado. Após a divulgação da notícia, a Serpentine Gallery disse em nota ao The Guardian que não tinha conhecimento da situação precária do escritório japonês e que estava tomando as medicadas cabíveis para tentar reverter a situação. Posteriormente, a Serpentine divulgou um comunicado oficial que não permitiria nenhum tipo de trabalho não remunerado vinculado ao projeto do pavilhão, independentemente dos cargos que estas pessoas ocupem na respectiva empresa contratada para o projeto. Ainda mais alarmante, a Serpentine disse que os responsáveis pelo projeto sabiam desta política.
Conforme bem observado The Guardian, a prática de estágios não remunerados é bastante comum no Japão, diferentemente do Reino Unido (sede da Serpentine). Em 2011, o Royal Institute of British Architects proibiu a prática de estágio não remunerado no país, obrigando todas as empresas a pagar ao menos o salário mínimo para todos os cargos dentro de um escritório de arquitetura, inclusive estudantes, uma medida introduzida por Angela Brady, então presidente do RIBA. A própria Brady comentou sobre o caso de Junya Ishigami + Associates, dizendo ao The Architects 'Journal que “esta é uma prática exploratória” e que “uma semana de seis dias de trabalho, 13 horas por dia, seria ilegal sob as leis da União Europeia."
Ishigami é o 19º arquiteto a projetar um pavilhão para a Serpentine, seguindo as versões criadas por Frida Escobedo (2018), Francis Kere (2017), Bjarke Ingels (2016) e Selgascano (2015). Saiba mais sobre o projeto de Ishigami para o pavilhão de 2019 aqui.